Sunday, May 10, 2009

Web 2.0: ruído e promessa das novas tecnologias


Apesar do sensacionalismo usado em torno do termo web 2.0, de fato houve um degrau tecnológico na Internet com o surgimento de blogs, a explosão das redes sociais e o armazenamento de programas e arquivos na ‘nuvem’. O difícil é usar de forma produtiva as fantásticas ferramentas que estão surgindo. Por um lado, elas multiplicaram muitas vezes a capacidade do usuário de gerar conteúdo e interagir em grupo. Mas fizeram o mesmo com a quantidade de ruído na informação. Quem será o editor dessa infinita quantidade de conteúdo, produzido por fontes dispersas e de credibilidade indistinta?

A Web se tornou popular com o surgimento dos browsers, possibilitando a distribuição universal, e com custos mínimos, de conteúdo virtual. Antes, éramos escravos de um número reduzido de canais de informação. Alguém que morasse no Rio de Janeiro tinha acesso a uns três ou quatro jornais diários (de importância) e revistas, uma minúscula fração das possibilidades pós Web. O email foi outra modificação fundamental, que aposentou o correio físico e libertou da geografia a comunicação entre pessoas. O mundo passou a ser o grande endereço de todos.

Morei em Washington D.C. nos EUA entre 1993 e 1997. Quando cheguei lá, havia uma loja que vendia algumas publicações brasileiras. Conseguia comprar jornais de alguns dias antes ou a Veja da semana vencida. Quando surgiu a web, foi uma revolução. Em 97, lia O Globo e o Jornal do Brasil antes que eles chegassem às bancas no Brasil. Desde então, meus hábitos de leitura se modificaram por completo. Posso acessar as melhores publicações em cada assunto, independente de onde ou quem as faz.

Isso tudo foi Web 1.0. O estágio 2.0 ampliou as possibilidades, mas gerou novos problemas. Por exemplo, a capacidade de produzir conteúdo sem precisar entender de qualquer tipo de linguagem de programação. Leia-se blogs. Eles se tornaram triviais e as pessoas esqueceram o quanto são milagrosos, por permitir a qualquer um, de casa, produzir conteúdo com texto, foto, vídeo e som. Dentro da área de jornalismo econômico, na qual atuo, posso ler os blogs de grandes economistas, como Paul Krugman, Brad de Long ou Dani Rodrik. Não dependo dos jornais brasileiros para mais nada que não seja notícia local. A contrapartida é o excesso de variedade de fontes e a dificuldade em classificá-las. Dosar, filtrar e hierarquizar a inundação diária de informação se tornou um tormento.

Outro grande fenômeno da Web, as redes sociais, tem características parecidas. Um admirável mundo novo se abriu, mas ele é tão barulhento que assusta. Tenho Orkut e Facebook, mas nunca os acesso. Parece-me uma enorme perda de tempo. Minhas grandes ferramentas do dia-a-dia são o Google, Skype (mais para mensagens de texto instantâneas), as páginas de Web, os blogs e o velho e bom email. Faço um uso leve de redes. Tenho testado com meus alunos, na PUC-Rio, a comunicação através de redes criadas pelo sistema Ning. Facilita a comunicação com eles, mas ainda não aprendi como passar disso sem, de novo, criar mais ruído do que produtividade.

Os blogs mais populares e polêmicos atraem grande número de comentários. Em geral, parecem ser todos oriundos de um pequeno número de leitores que escrevem trivialidades e se ofendem no debate de temas acalorados. Nas redes, como o Facebook, vejo os mais jovens passando horas seguidas. O resultado parece um email ampliado. Mais gente se comunica sem, entretanto, melhorar a qualidade da comunicação.

Como professor e jornalista, muitas vezes free lancer, a web me libertou. Tenho nas mãos recursos de comunicação e acesso a informação antes só disponíveis a grandes redações. Sou um entusiasta da tecnologia e fico abismado com as possibilidades novas que surgem a cada dia. No momento, vejo que geram som e fúria. Porém, os recursos mais interessantes, como as redes, ainda não foram domados. A quantidade de blogs parece diluir a credibilidade da informação, ao mesmo tempo em que ajuda a matar os grandes jornais. As novas ferramentas são maravilhosas, mas ainda estamos longe de compreendê-las e torná-las, de fato, produtivas.

.

No comments:

Post a Comment