Quase ninguém sabe, mas uma das melhores atrações culturais do Rio de Janeiro está escondida no fundo do bairro da Gávea, em meio a um vale, encrustrada entre mansões, muita mata e a favela
Favela Parque da Cidade. O
Instituto Moreira Salles, como quase tudo no Rio, convive com todos os contrastes da cidade, por vezes pobre, violenta e desesperançada e, igualmente, bela, sofisticada e acolhedora. Purgatório da beleza e do caos, como diz a música.
Quem sobe a Rua Marquês de São Vicente em direção a estrada da Gávea vai passar sem perceber pelo Moreira Salles. Para indicá-lo, existe apenas uma placa de metal escovado fora do enquadramento do motorista e parecida com as dos prédios em torno.
Só chega quem sabe para onde vai ou é local.
Uma vez lá dentro, carro confortavelmente estacionado, você se sentirá como convidado da festa do ex-dono da casa, o banqueiro
Walter Moreira Salles. E não deixa de ser verdade, porque a família Salles já morou lá, e, como poucos milionários brasileiros, construiu um monumento ao bom gosto e ao bem viver, que agora divide com o público. O projeto da residência, do arquiteto
Olavo Redig de Campos, é grandioso, mas integrado ao ambiente. A escala é perfeita com linhas modernistas limpas e despretensiosas.
O IMS costuma manter pelo menos três exposições. No momento, expõe telas e desenhos de
Alfredo Volpi, uma bela mostra do fotógrafo americano
Paul Strand e uma retrospectiva da obra do cineasta
Joaquim Pedro de Andrade. Tudo biscoito-fino, oferecido em salas climatizadas, cujas portas translúcidas se abrem deslizando logo que o visitante se aproxima pelo piso de mármore italiano. O pequeno cineclube tem cerca de 50 lugares. Novamente, a sensação não é a de estar em um cinema comercial, mas na sessão privada de um diretor hollywoodiano. Projeta os melhores filmes do circuito e raramente está cheio.
Os jardins da propriedade são de
Burle Marx. É dele também um belo painel que adorna um lago povoado de carpas. Em torno, mesas servidas pelos garçons do café local. Durante a semana, o Moreira Salles é vazio. Levar um livro ou um laptop para lá transforma você no usuário do melhor escritório da cidade. O efeito da beleza e arte do entorno seguramente melhorará o resultado de qualquer atividade. A casa tem deliciosos pátios internos e uma piscina que trai o seu uso pregresso. Hoje, ela é ociosa, um prazer apenas para os olhos.
Marque um encontro com amigos em um domingo preguiçoso. Sente no café e converse sobre qualquer assunto, política ou futebol, mas sem pressa. A senhora que visita pela primeira vez, pergunta tímida a recepcionista, “Quanto custa?” Para receber a resposta tranquila, “é gratuito”. Assim, veja a mesma exposição duas vezes. Vá lá sentar no jardim e ler um pouco. É tudo por conta do milionário. Tem gente que consome uma vida para construir uma fortuna a toa. Não é o caso. O IMS é uma herança e tanto, que não fica a dever a nenhum lugar do mesmo tipo no resto do mundo.
Clique na montagem a baixo e veja outras fotos. E só faça o favor de não cometer o mesmo erro desse blog. Não conte para todo mundo.
Detalhes do Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro